sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Peso

Preso a fardos inteligentes. Dores na lombar, nos nervos. Pés inchados, quase que imóveis. Um corpo arrastando pernas, estas não sabem aonde ir.
Cabelos secos, rígidos. Pele num leve tom de amarelo. Olhos famintos de alguma coisa. Suor nos pés, mãos, do árduo trabalho que é viver.
E o alto-falante que passa na rua indica o banho de sol, duas vezes ao dia.
Orfão. A mãe o deixou na porta de uma vila imunda, morreu no parto sofrido, sumiu com  um gringo depois de um quente e libidinoso carnaval.
Aos cinco anos de idade, o pai foi morto em sua frente e na de Duque o vira-lata, seis anos. A prefeitura providenciou o sepultamento, o cachorro foi sacrificado e a criança; esta não poderam sacrificar.
Hoje, homem feito. Depois de muito sangue chorar.
Engoliu o espirito de viver. O que lhe dignificou. Piedade das almas sofridas, sim. Comiseração não lhe coube. Todovia, tudo lhe dói.
Uma dor intríseca. Já parte de seus músculos. De sua carne fibrosa. Das suas palavras. De tudo o que é, a ponto de não saber ser, sem. Em nível de simpatia, quase a gostar.
Não sendo fã de murro em pontas de facas.
Um desejo, Duque de volta. Não pensa em culpa, lhe sobra a desculpa da fatalidade. 
Carrega por toda a vida sofrimento bigorna. Tendo para si uma única ânsia, salvar seu coração da memória. Afim de um novo passo, este com leveza.

"Chorei porque não era mais uma criança com a fé cega de criança. Chorei porque não podia mais acreditar e adoro acreditar. Chorei porque daqui em diante chorarei menos. Chorei porque perdi a minha dor e ainda não estou acostumada com a ausência dela."
Anaïs Nin

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